Na ONU, Bolsonaro já é motivo de debate
Referência às propostas do candidato gerou discussão entre ONGs brasileiras e o governo de Michel Temer em Genebra
O candidato Jair Bolsonaro (PSL)
já é motivo de um debate em plena sede da ONU, em Genebra. Nesta semana, a
sociedade civil, governos e empresas negociam nas salas das Nações Unidas um
tratado sobre empresas multinacionais e seu papel social e ambiental. Mas,
nesta quinta-feira, foi uma referência às propostas de Bolsonaro que acabou
gerando um debate entre ONGs brasileiras e o próprio governo de Michel Temer,
que insistiu à secretaria das negociações do tratado que o processo eleitoral
brasileiro e "acusações políticas" não tinham lugar naquele fórum.
Jair Bolsonaro (PSL), candidato à
Presidência (FOTO: Twitter/Jair Bolsonaro / Estadão Conteúdo)
Com o apoio dos grandes
conglomerados empresariais do agronegócio, mineração, financeiro e outras
empresas, o candidato da extrema-direita à Presidência do Brasil afirmou que
irá por fim a toda forma de ativismo no País", disse Buzatto. "Pedimos
o apoio e a solidariedade da comunidade internacional", declarou o
ativista, sendo aplaudido por alguns que estavam na sala.
O CIMI se referia a uma
declaração assinada por outras 3 mil entidades e que "repudiava" a
fala do candidato em relação a ativistas de direitos humanos e pedia um apoio
de movimentos pelo mundo. "Por meio de nota,
organizações não-governamentais, coletivos e movimentos sociais nacionais e
internacionais repudiaram a afirmação do candidato Jair Bolsonaro de que, se
eleito, vai "botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil",
aponta a declaração, liderada pela Conectas Direitos Humanos.
"Organizações e movimentos
são atores estratégicos na contribuição para a formulação de políticas
públicas, na elaboração de leis importantes para o País", afirma o
documento ao citar leis conquistadas por meio de pressão de organizações
ativistas, como as que criminalizam o racismo e a violência contra a mulher. E
conclui: "calar a sociedade civil, como anuncia Jair Bolsonaro, é prática
recorrente em regimes autoritários. Não podemos aceitar que passe a ser no
Brasil."
Mas a fala do CIMI foi rebatido
pelo Itamaraty. A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo,
pediu um direito de resposta diante do discurso do CIMI e fez questão de questionar
a referência de Buzatto ao candidato do PSL.
Segundo ela, a referência a
Bolsonaro estava desviando a atenção das negociações. "Este não é o
momento e nem o local para tratar das instituições brasileiras ou do processo
eleitoral", disse a embaixadora. "O Brasil considera que tais
declarações desviavam nossa atenção da negociação substantiva de um instrumento
internacional sobre empresas e direitos humanos e não contribuem para a
compreensão dos assuntos sob consideração".
Para a embaixadora, ao tratar
desses outros temas, o tempo para negociação sobre o tratado é desperdiçado.
"Gostaria de indicar que o Brasil não é um assunto dessas consultas",
disse. Ela ainda pediu que a secretaria das negociações oriente delegações a
não usar o tempo de discursos para fazer "acusações políticas de assuntos
que não estão no mandato" do grupo negociador.
Jamil Chade.

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