A (Des)Construção da Democracia (?)
Não faltam motivos para a
preocupação com os resultados das eleições de 07 de outubro. Os candidatos jair
Bolsonaro (PSL), com 46% dos votos válidos, e Fernando haddad (PT), com 29%,
foram confirmados para o tira-teima de 28 de outubro, quando ocorrerá o segundo
turno de votação. Quem quer que seja escolhido para governar o país nos
próximos quatro anos terá dificuldade de unir o país.
Votação no dia 7 de outubro: quem quer que ganhe, a democracia deve ser preservada. (FOTO: AMAZONAS NOTÍCIAS)
De acordo com as últimas
pesquisas divulgadas antes do primeiro turno, tanto Bolsonaro quanto haddad
eram rejeitados por mais de 40% dos eleitores – a soma das taxas de rejeição
dos dois candidatos superava a soma das intenções de voto, algo inédito no
Brasil. Esses números refletem o alto grau de polarização nestas eleições, que
marcam o fim do ciclo de duas décadas de PSDB-PT no poder. Desde 1994, apenas
candidatos desses dois partidos ganharam as eleições presidenciais. Agora, a
oposição branda entre PSDB e o PT dá lugar a uma polarização mais radical entre
petistas e antipetistas.
É preocupante que nenhum dos dois
lados pareça ter muito apreço pela democracia. Bolsonaro não esconde sua
admiração pela ditadura militar e seu desprezo aos direitos das minorias. Nos últimos
dias, circularam pelas redes sociais fotos e vídeos lançando dúvida sobre as
urnas eletrônicas – nenhuma fraude foi comprovada. O PT não fica atrás. O
ex-ministro José Dirceu disse em uma entrevista que a tomada do poder pelos
petistas “é uma questão de tempo”, independentemente das eleições.
Infelizmente, essa tentativa de
deslegitimação da democracia não é um fenômeno brasileiro, como vêm mostrado
líderes como Donald Trump, nos estados Unidos, e Recep Tayyip Erdogan, na
Turquia. Um estudo da consultoria Economist Intelligence Unit mostra que apenas
4,5% da população global vive atualmente em uma “democracia plena”.
Mas talvez o medo de um
retrocesso democrático esteja exagerado. Afinal, temos alguns pontos a
comemorar. O atentado contra Bolsonaro em setembro foi um fato isolado, e as
eleições transcorreram na mais perfeita ordem. Apesar da complexidade da
votação, pois os eleitores tiveram de digitar os números de seis candidatos nas
urnas, os índices de brancos e nulos ficaram abaixo dos registrados nas últimas
eleições.
Outro ponto positivo é que o
apoio à democracia nunca esteve tão alto no país. Uma pesquisa do DataFolha,
divulgada às vésperas das eleições, mostrou que 69% dos eleitores consideram a
democracia a melhor forma de governo para o Brasil. Apenas 12% acredita que a
ditadura militar seria melhor. Além disso, vemos surgir uma direita sem medo de
dizer seu nome – embora ainda seja preciso maior clareza de ideias em muitos de
seus adeptos.
É uma notícia fantástica ante o
ambiente político e econômico conturbado em que vivemos. Com todas as suas
dificuldades, o país dá mais um passo para consolidar sua jovem democracia –
uma obra que exige vigilância permanente, pois nunca termina.

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