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Mostrando postagens de 2015

Diário de um Canal

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  Não, meu querido, eu não vou falar pra você do canal que separa a ilha da Grã-Bretanha do norte da França, mais conhecido pelos franceses como La Manche, ou, pelos alemães, como Der Ärmelkanal, ou English Channel pelos ingleses, ou ainda Canal da Mancha, no bom e velho português. Isso não vai ser uma aula de história, e eu não sou o Laurentino Gomes. O que me traz aqui é algo mais interessante. Eu vou falar de uma coisa factível, muito mais comum, e muito mais presente. Se fosse você, não tiraria os olhos daqui, mesmo o assunto não sendo, digamos, palatável. Vai que isso acontece com você, hein? Mas vou de diário, fique tranquilo. Como um bom uísque, a coisa desce macio. Falemos sobre dor de dente. Domingo, 04:23 a.m. Acordo com o dente latejando. Parece que tem alguém, em intervalos regulares, enfiando uma faca nele. Não consigo dormir. Vou até a cozinha e mando 40 gotas de Lisador pra dentro. Fico pensando que merda é essa. 10:30 a.m. Sem dormir desde então, sou recebido com

O Dia em quem o Jornalismo foi morto a Facadas

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O jornal Extra matou o jornalismo a facadas com a capa que transformou o assassino do médico Jaime Gold em vítima de duas tragédias anteriores, como se as supostas faltas de família e escola fossem as verdadeiras responsáveis pelo crime e equivalessem a um assassinato. Para o Extra, a escola era a “outra barreira de proteção do menor” assassino, que, no entanto, “também desistiu dele”. O jornal, na prática, legitima moralmente o crime  ao jornal Extra os casos de: -  Suzane Von Richthofen , que estudou no Colégio Humboldt, cursou Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e tinha pais comprovadamente esmerados em sua educação, até decidir matá-los a golpes de barra de ferro, em parceria com o namorado rejeitado por eles e o irmão do dito-cujo. -  Guilherme de Pádua , então ator da maior emissora de TV do país quando decidiu apunhalar até a morte a atriz Daniella Perez, seu par romântico na novela. Os pais do ex-ator que ganhou bolsa na PUC Minas

Cuba-Livre (?)

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       Perguntei como ele estava depois da bebedeira noite passada. Era um amigo não muito acostumado ao álcool. Até me surpreendi quando ele aceitou tomar umas. Em resposta, disse-me que acordou de madrugada com dor de cabeça e azia, ao que indaguei se o mal não teria sido em razão dos espetinhos que ele devorou no fim da noite. É... Pode ser...      Mas a conversa banal me arrastou para o campo das bebidas. Coisa de quem não tem o que fazer, sabe, numa noite fria de domingo. Resolvi até anotar tudo num papelzinho. Quem sabe um dia não vira crônica, hein?      Cerveja/chope: sabe que desde muito cedo aprendi a gostar. Coisa de família. Venho de uma que bebe pra diabo, e que sempre se reunia pra bater papo, rir, comer e principalmente beber, é claro. Lembro-me de uma vez, não sei quantos anos tinha, em que enchi a cara de cerveja, presunto e abacaxi. Bebi tanto que saí falando castelhano. Mas prefiro chope. Bem tirado, gelado, três dedos de espuma.      Vinho: veio depois d

Frase do Dia

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  "Há muitos homens de princípios nos partidos políticos, mas não há nenhum partido de princípios." (Alexis de Tocqueville)

Dez Minutos

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Promessas vazias e esperanças vãs lhe tiram do sério, assim como se atrasar para o trabalho, que acaba sempre sendo ruim para ele mesmo. Quando se é responsável por diversas funções, torna-se fácil perder o foco, até porque o foco dele não é um, mas vários. Mesmo com quinhentas e vinte e sete mensagens para responder, o celular apitando seus compromissos na empresa e a assistente repetindo que ele é funcionário como todos ali, às quatro da tarde ele para o trabalho e tranca a porta, fecha as venezianas que dão para o salão - onde trinta funcionários falam sem parar ao telefone -, fecha a janela e apaga a luz. Dez minutos, devidamente descontados da mísera meia hora que tem de almoço, é do que ele precisa. Em dez minutos, sentado confortavelmente em sua desconfortável cadeira, olhos fechados, de barulho somente um falatório distante, ele reflete a mesma reflexão que lhe acompanha há mais de trinta anos de casa: e se ele não existisse, se não estivesse ali, o que m

Sexta Treze Feira

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  A sexta-feira 13 não me aterroriza. Talvez, por que muitas outras coisas me apavoram terrivelmente, com ou sem sexta-feira, com ou sem dia 13. Sexta-feira 13, pra mim, não é filme que a gente arrepia antes da cena. Sexta-feira 13 é o que vejo pelo mundo em que transito, e pelo mundo que transita longe de mim. Sexta-feira 13 mesmo é a banalização da vida – que pode ser interrompida nas guerras entre nações, ou nas guerras particulares, numa briga de bar, num shopping, no trânsito cotidiano, numa esquina qualquer, ou em casa de família mesmo.  Sexta-feira 13, pra mim, é gente (ainda) sofrendo fome, frio, e até morrendo, por falta de alimentação e agasalho, em vergonhoso estado de desamparo, diante dos olhares indiferentes. Sexta-feira 13, pra mim, são os sentimentos negativos que nós todos, seres humanos, nutrimos: desrespeito, orgulho, inveja, ciúme, vingança, ingratidão, raiva beirando ao ódio. Também, pra mim, sexta-feira 13 é má interpretação, fofoca, manipulação de seres

As Verdades Sobre Uma Ou Outra Dose

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   “Melhor morrer de vodca do que de tédio.” A frase acima está no Facebook do estudante Humberto Moura Fonseca, 23 anos, morto depois de beber 30 ou mais doses de vodca no último sábado. Ele participava de uma festa com bebida liberada em uma chácara em Bauru, cidade em que cursava engenharia elétrica. A festa era de estudantes de engenharia. Após divulgação na imprensa, a frase circula hoje pelas redes sociais acompanhada de insinuações de que o responsável pela tragédia foi o próprio rapaz. “Triste ver gente sem metas na vida”, escreveu a usuária Samira Queiroz no Twitter. “E o babaca morreu”, disse Pedro Sprangin na mesma rede social. “Realizou o ‘sonho'”, postou Leandro Capilluppi. “Parabéns, você atingiu seu objetivo”, disse Giovanna Pedroso. Etc, etc. O que pode inspirar alguém a dizer coisas assim? O desprezo pela vida de um semelhante? Ou a perplexidade diante de uma morte absurda? Prefiro ficar com a última opção. Overdose acidental nunca foi tratada como suicídio e

Sobre o Inferno Antes e Depois da Vida

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    Nem um dos filmes de terror já feitos por Hollywood coloca tanto medo nas pessoas quanto o mito de que um grande lago de fogo aguarda, após a morte, a maioria dos homens e mulheres que não se comportaram de acordo com os padrões de determinadas religiões. A mais conhecida de todas é com certeza a cristã. Tendo provavelmente origens gregas e tão utilizado na idade média para arrecadar dinheiro para a igreja católica, o conto do inferno foi tomando cada vez mais força durante o tempo até chegar nos dias atuais quando ainda pode reger a vida de milhares de pessoas. O inferno, segundo o conto cristão, é um lugar para onde os que não creram em Jesus de Nazaré vão quando sua vida chega ao fim. Lá existe um grande lago de fogo e enxofre e nas palavras atribuídas ao próprio Jesus "Há dor e ranger de dentes". E não para por ai não. Esse sofrimento é eterno. Ao que parece sua pele não vai ser consumida nem seu coração vai parar, mas a dor continuará a machucar para todo o

A Humanidade é um Café com Leite

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  Que sina a do Homem: vive num mundo que lhe foge à compreensão! Nem o átomo — do grego átomos: que não pode ser cortado, indivisível — que se acreditou durante milênios ser a menor parte da matéria ele consegue decifrar, pois está há mais de um século envolvido nessa aventura. A cada resposta formulada, surgem outras perguntas... A natureza é mais feroz do que a Hidra de Lerna, que substituía cada cabeça cortada por duas! Se nem o micro — cujo tamanho lhe é desprezível — a Humanidade consegue desvendar, o que dirá do macro — cuja extensão ela sequer logra imaginar? E a si mesmo? Quem ousaria dizer conhecer? Solucionar as infinitas charadas é divertido. Melhor mesmo é contemplar e deliciar-se com as inebriantes belezas — internas e externas, pequenas e grandes. Estou desconfiando de que a Humanidade é café com leite nessa brincadeira com a natureza...

Pierrot

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Pierrot - disse-me um dia um Arlequim risonho - Sai dessa nostalgia, deixa esse ar de sonho e vem para a orgia, que é pleno o Carnaval. Estruge o riso doido e é doida a bacanal ! Tudo chama ao prazer, tudo noss´alma aviva no maior dos ataques de insânia coletiva ! Sai dessa solidão e salta para a rua onde a alegria imensa de viver estua de boca em boca, em claro riso franco; deixa essa vestia negra e traja-te de branco. Espera-te, cá fora, o amor de Colombina, amor feito de luz e música divina e que há de dissipar o tenebroso véu em que teu coração, amaro, se escondeu. Não queira ser jamais como te quis Verlaine: Sê como te achou Benville; alegre, infrene ! Vem gargalhar na luz, não persista na treva, Pois, deste mundo, Pierrot, nada se leva! Eu porém, um Pierrot eleito da Descrença Que só pensa na dor e na mágoa, que pensa, apenas, no tristonho lado mal da vida, deixei-me ali ficar, com a cabeça pendida, buscando ver surgir, em meio às serpentinas, uma só Colombina, entre mil Col

Carnafolia

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Espreguiçadora Na terra molhada Abre tuas alas Vumbora que o samba É de nunca acabar Na malícia o tropeço O pulso entortando Teus violinos Ôooo O "vamos" torneado Donde consegue alcançar O sonho na dianteira Até dormir o abraço De teu laço esgarçado

Estrelas

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Algumas estrelas estão caindo do céu. Não são pedras em uma rota aleatória que invadem nosso ar. São verdadeiros astros carentes de um olhar. Que impelidos pela tristeza de um esquecimento cruel. Se jogam para morte abandonando o seu lar. Mas diga às estrelas que as olho. Repita para elas minha poesia. Salve as belas que se jogam deixando o leite da via. Diga às estrelas que as olho. E entendo a agonia.

A Filosofia está realmente morta?

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Tomar café da manhã, ir para o trabalho, voltar da empresa programando cada segundo a ser aproveitado das abençoadas horas que estamos em casa, os problemas de relacionamento na família e com a sociedade. Todas essas coisas parecem tomar conta de nosso dia a ponto de não nos deixar refletir criticamente sobre quase nada. As maravilhosas perguntas filosóficas que tanto fizeram evoluir psicologicamente a humanidade estão ficando para trás, pois a maioria das pessoas infelizmente não vê razão para, como diria uma amiga, se interrogar com o que muitas vezes não pode ser respondido. O fato não observado ai é que muito provavelmente não há resposta justamente porque só um número muito pequeno de pessoas se move a  pensar sobre o assunto. Indagações sobre o propósito da vida e do universo, se é que há um propósito, que já vinham sendo esquecidas mediante ao grande crescimento da religião, agora parecem ter sido abandonadas quase que totalmente. Nos comportamos (O verbo está na pr

Mágica

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Quando eu pensei em não acreditar mais em magia. Olhei e vi uma grande bola de areia flutuando sobre todos os homens. E eles a chamavam de lua. Era ela iluminada por uma outra bola. Uma chama poderosa que invadia todas as ruas. E o que pode ser isso se não magia? Vi os raios de luz se dividirem em arco íris. Vi a íris de uma menina que o olhava. E o que pode ser isso se não magia? Eu olhava ao meu redor e sentia. Dos mistérios vêm as crendices eu sei. Mas a tolice não é irmã da alegria? O que pode ser isso se não magia? Perguntei a todos os homens. E eles a chamavam de lua.

Luar Cheia Lua

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  Era uma lua cheia. Rua cheia. Uma lua. Nada meia. E nem parece. Toda nua. Maré que cresce. Uma grande lua cheia. Que incendeia. Alma crua. Era a tua. Sangue e veia. Velha prece. Me inclua. Pois é uma lua cheia. 

Um pouco pra você...

- Toma! - O que é? - Vida! - O que faço com ela? - Aproveita. - Como? - Não perguntando demais.

Pedaços

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  Parafuso Sou tomado por uma inspiração das mais elevadas, chego a dizer quase divina. Sinto meu pensamento, minhas ideias, meu modo de ver o mundo sendo lavados por uma máquina lavadora gigante, dessas que você não encontra nas Casas Bahia, e que só pode ser coisa do céu. Sabe aquela história de criança que escuta o estrondo do trovão, e a mãe vem dizendo que São Pedro tá arrastando os móveis e lavando o céu? Daí o barulho? Pois é. Só pode ser coisa do céu. Só pode ser máquina de São Pedro. Sinto — aliás, não sinto; ou sinto depois, isso sim — que a cabeça viaja e se desliga do mundo. Sabe quando você está dirigindo por uma estrada conhecida, a música do rádio tomando conta, e você simplesmente desliga? O Nirvana? Não sei. Só sei que é assim. E quando acordo tudo está diferente. Mas o pensamento, ah!, o pensamento, é a melhor parte. O pensamento está leve como um graveto. Límpido, arejado, como boiar no mar. E você descobre que a vida é muito simples de ser vivida. Mas dura pou