O Juro caiu. O Lucro, não.


Mesmo com redução da taxa Selic, os bancos tiveram rentabilidade de 13,6% em 2017 – o dobro obtido por empresas não financeiras, aponta pesquisa para MAIORES E MELHORES



Clientes do Itaú: o Banco foi líder em rentabilidade sobre o patrimônio em 2017. E está para ser o líder também em 2018. (FOTO: Sindicato dos Bancários do Pará)

Ao longo dos anos, foi difundida a ideia de que os bancos são um dos principais beneficiários da política de juros altos no Brasil. Dizia-se que, quando os juros caíssem, o setor bancário seria um dos grandes perdedores. Pois bem. Mesmo com a queda da Selic, taxa básica de juros – reduzida de 13,75% no início de 2017 para 6,5% hoje -, os bancos brasileiros conseguiram aumentar a sua rentabilidade. De acordo com levantamento, os bancos brasileiros tiveram um retorno sobre o patrimônio líquido de 13,6% em 2017 ante 10,4% no ano anterior. “Os bancos brasileiros apresentam atualmente quase o dobro do retorno médio de empresas de outros setores”, diz Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economática. “Eles obtêm também quase o dobro de rentabilidade alcançada por bancos de outros países”.

O corte de juros básico tem dois efeitos opostos nas instituições financeiras. “Se, por um lado, afeta negativamente os recursos da tesouraria dos bancos aplicados em títulos públicos; por outro lado, a queda da Selic e a inflação controlada diminuem a percepção de risco, e os bancos passam a emprestar mais”, diz Clemens Nunes, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. No balanço entre dois efeitos, os bancos brasileiros claramente saíram ganhando. Entre os 41 bancos com mais de 100 bilhões de dólares de ativos que fazem parte da base internacional de dados da Economatica, o Itaú foi o que obteve a maior rentabilidade anual (18,7%). Em segundo lugar, está a instituição canadense Canadian Imperial (16,6%). Outros bancos com operações no Brasil figuram entre os dez com maior retorno sobre o patrimônio – o Santander (14,7%) está na sexta posição, o Bradesco (14%) aparece na sétima e o Banco do Brasil (13,5%) é o nono. Campeão de rentabilidade, Itaú teve em 2017 um lucro líquido de 25 bilhões de reais, 12% a mais do que no ano anterior.

“Esse resultado reflete as estratégias que estamos adotando há cinco anos, de reduzir as perdas com crédito, manter os custos abaixo da inflação, investir em novas tecnologias e ampliar a prestação de serviços”, diz Alexsandro Broedel, diretor executivo de finanças e relações com investidores do Itaú.
Uma das explicações para o bom desempenho dos bancos mesmo com a queda da Selic é que, por falta de competição no setor, não há pressão para as instituições repassarem a redução dos juros aos clientes. Embora os bancos afirmem ter repassado integralmente a redução da Selic em algumas linhas de crédito, os juros, de modo geral, continuam altos – no cheque especial, a taxa média para pessoas físicas é de 321% ao ano. “Os juros bancários estão caindo a uma velocidade muito distante do corte da taxa Selic”, diz a economista Betty Grobman, sócia da BSG DuoPrata, um centro de capacitação em finanças. De acordo com ela, a parcela de lucro dos bancos com o spread – a diferença entre os custos de capitação dos recursos no mercado e os custos de empréstimo aos clientes – mantém-se elevada. “No Brasil, dependendo dos produtos, de 17% a 26% dos spreads correspondem aos lucros dos bancos”.

A melhoria da economia em 2017, ainda que modesta, também ajudou o setor bancário ao ampliar a venda de produtos como seguros e planos de previdência e diminuir o calote. “A redução da inadimplência é um fator relevante para o retorno dos bancos”, diz o economista Roberto Luis Troster. “Isso atenua as perdas por devedores duvidosos e, com isso, sobra mais dinheiro para os acionistas”. No Bradesco, a provisão para devedores duvidosos – uma das principais despesas do banco – caiu 24% em 2017. Isso ajudou o banco a fechar o ano com lucro líquido de 19 bilhões de reais, um crescimento de 11% em relação ao ano de 2016. “Conseguimos avançar nos resultados em razão de uma forte disciplina financeira, controlando a inadimplência e capturando as sinergias com a compra do HSBC”, diz carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco.

Nada mal para tempos difíceis.

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