A Tempestade Vai Passar (?)
Entidades de caminhoneiros descartam greve após o feriado (FOTO: Veja)
A crise política no Brasil parece
ter chegado para ficar – pelo menos até a eleição de outubro, que, em teoria,
vai produzir um presidente com respaldo popular suficiente para começar a
reunificar o país. Até lá, ao que tudo indica, viveremos dias turbulentos. O
clima de inquietação cresceu nos últimos dias com a greve dos caminhoneiros e a
eminencia de se ter uma nova greve da classe, o que causou e está causando
transtornos para parte considerável da população, além de prejuízos bilionários
para empresas. Mais do que isso, expôs a fragilidade do governo de Michel Temer
– muito criticado pela forma inepta como reagiu à paralisação – e fez ressurgir
uma preocupação que até pouco tempo parecia enterrada no cenário político
brasileiro: o temor de uma ruptura democrática. Manifestantes que aderiram à
greve – e, sintomaticamente, também alguns que eram contrários à paralisação –
lançaram apelos de intervenção militar.
O pedido de retorno do regime
militar, que vigorou de 64 até 1985, quando muitos atuais entusiastas da
ditadura eram crianças ou nem tinham nascido, já havia ecoado durante as
manifestações contra a corrupção, mas dessa vez parece ter sido levado um pouco
mais a sério. A ponto de o general da reserva Sérgio Etchegoyen, ministro do
Gabinete de Segurança Institucional e um dos principais auxiliares de Temer,
precisar vir a público para afirmar que “a intervenção militar é assunto do
século passado”. “Meu farol que uso para me conduzir é muito mais potente que o
retrovisor”, disse Etchegoyen.
Apesar das palavras
tranquilizadoras do general, é fato que a democracia brasileira enfrenta uma
crise. O americano Steven Levitsky, professor na Universidade Harvard e autor
do best-seller How Democracies Die,
afirmou que o brasil vive uma “tempestade perfeita” por causa da confluência entre
a corrupção gigantesca e a crise econômica profunda. “Uma única entre essas
duas situações já seria desafiadroa. As duas ao mesmo tempo é um duro teste
para qualquer democracia”, disse Levitsky em entrevista ao Editor Executivo da
Revista Exame Eduardo Salgado.
O professor norte-americano
lembrou também que todas as democracias enfrentam crises, algumas severas, e o
mais importante para sobreviver aos períodos de turbulência é manter as regras
democráticas intactas. Nesse sentido, Levitsky destacou o papel fundamental das
elites. Ainda que o descontentamento generalizado possa levar ao clamor popular
por um regime autoritário, se as principais lideranças políticas e sociais – o que
inclui a imprensa – se mantiverem firmes na defesa da democracia, a tempestade
vai passar no Brasil. É essa também a nossa convicção. A jovem democracia
brasileira está passando por mais uma prova, mas tem tudo para sair dela
fortalecida. Claro, isso dependerá do que fizermos daqui para frente, incluindo
as eleições de outubro. Mesmo os que sonham com a ditadura militar terão a
chance de escolher nossos próximos governantes. Pelo voto, democraticamente.
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