Cartas Sem Destino

Uma certa tarde chuvosa. Era uma tarde chuvosa como outra qualquer.
Dava para sentir o asfalto ainda molhado, evaporando e levando para o ar aquele vapor quente e úmido. O sol refletia nas poças d´água, e tudo se visualizava mais do que realmente era. As flores ao redor do hospital estavam com gotas que pesavam em suas pétalas, e as faziam balançar para cima e para baixo. Parecia que tudo se desvendava sem que vozes fossem ecoadas daquele quarto.

E então o silêncio daquela tarde chuvosa penetrou e ecoou uma triste canção de ninar. Era tudo tão preciso, aconteceu e assim deveria estar: Tudo estava conforme o que tinha que acontecer; haveria de ser respeitado. A noite anterior silenciou a todos e preparou-nos, pois Deus nos céus chorara inconsolado com sua decisão: Aquele corpo frágil não aguentava mais tanta dor e precisava repousar nos braços de seu criador. Então o dia que amanheceu molhado era um dia coberto de lágrimas e tristeza. Não pensem que Ele quis estender mais do que deveria, mas tudo que renasce do chão, um dia retorna a este.

Então, tudo foi como devia ter sido, talvez um pouco duro demais para aqueles que sentiram o pesar dentro de seus corações, mas a conformação era um sentimento que jamais se restabeleceria, apenas a saudade ficaria. Então, foi assim que uma porta e abriu, para outra fechar, e diante de seu frágil corpinho de criança, uma das mais doces que eu já conheci, senão dizer, A MAIS DOCE, eu contive meu choro, limpei minhas mãos como sempre fazia para pegar nos seus pézinhos quentinhos, e fiz um último gesto de carinho e despedida.

E foi assim, que ao me calar, dei lugar á dor dos mais próximos e sofri calado, ao ver um anjinho partir. Espero que ela esteja em um lugar melhor, sei que sempre estamos acompanhados daqueles que partem, por que talvez nunca partam de fato. Mas o fato é que tudo retorna para nós, ela agora faz parte de cada pedacinho do mundo e está dentro de nós, bem como em tudo o que é bonito. Espero um dia, quando for minha hora, poder abraçá-la, e dizer que sempre estive feliz quando ela sorria para mim, ainda desde pequena. Sempre vou me lembrar daquelas mãozinhas magrinhas e de pele novinha, que me chamavam já meio sem jeito para um abraço, mas agora não lamento, a única felicidade em relação á ele é saber que a dor se foi, e agora ele encontra-se em paz. Resta ao resto de nós, mortais, um dia encontrar a nossa.

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