O Enforcado

   Final de chuva pela manhã, fim do período de ronda e café requentado esperando a passagem de serviço, um chamado!
   Era verificação de corpo encontrado. Na árvore distante da estrada um homem, estranho vulto mal vestido,  pendia rente a enxurrada. Cena de morte, fotos necessárias, isolamento de local e outras atitudes teatrais.
   No pescoço esticado um arame dava conta de ser o mortal instrumento. Olhos esbugalhados do sofrimento escolhido pareciam olhar para mim, confessando um arrependimento tardio. Morrera durante a chuva naquela solidão de vida, naquela desesperança.
   Em seu bolso uma velha carta de sua filha. Declaração de um amor agora findado nos galhos da terrível má escolha como solução de problemas.
   Uma garrafa pelo meio de cachaça, pelo meio de coragem, cheia de histeria, era na verdade a muleta da covardia. Matou-se por ter perdido o emprego no mesmo lugar onde muitos não querem trabalhar, mercê das tolerâncias e bolsas cada vez mais disseminadas por aí...
   Quem o julga?

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