Decifrando o Indecifrável !!!


Há alguns dias atrás, não tinha nada para fazer, quando resolvi ouvir algumas músicas para relaxar.
Peguei o MP4 e fui direto para as pastas dos cantores que não poderiam faltar, como, por exemplo, Vinícius de Morais, Renato Russo, Tom Jobim, entre outros.
Finalmente cheguei na pasta das músicas de Cazuza (que gosto muito)
Só que fiquei "refletindo" sobre a música muito interessante, porém com uma letra meio burra!!!
Vamos analisar:

A música a qual estou me referindo é "Ideologia"...
Sim, Caro leitor...
Aquela que dizia o seguinte:
"Ideologia/Eu quero uma para viver!"

O que seria ter uma ideologia???

"Ideologia é um termo usado no senso comum contendo o sentido de "conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas".


E é aí onde eu quero chegar!!!!!!
Ao dizer que quer uma (ideologia) para viver, se deduz que ele não tem nenhum ideal, mas na verdade seu ideal é ter uma ideologia.

Então, como ele não tem um ideal?!?!?!

Pode ter sido escrita por um dos melhores músicos da época, pode ter feito o maior sucesso, mas mesmo assim, eu não poderia deixar passar essa em branco.

Comentários

Anônimo disse…
Julio, eu leio seus comentários, de vez em quando, lá no blogue do Marcelo, e de fato acho v. bastante maduro para a idade que tem.
Quando li este texto, pensei em sugerir-lhe algo. No Grego e no Latim há uma figura sintático-semântica chamada hipálage.
Nas gramáticas de língua portuguesa não encontro esta figura estudada cientificamente, senão parcialmente vislumbrada em algumas formas genéricas de metáfora e metonímia.
Na hipálage, se eu disser que a manhã está aziaga, estarei a transportar um sentimento meu para um fenômeno natural. Quem está a sentir-se mal? Eu. E a manhã, com isso? Nada.
João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Eça de Queiroz, Zuenir Ventura, Lygia Fagundes Telles, o próprio Camões (exemplos às dezenas) e, se v. for procurar em autores estrangeiros, como Alighieri, Shakespeare, Baudelaire, Ezra Pound (este é dos mais difíceis de ler) e J. Joyce (este talvez o mais difícil de todos), verá que eles muitas vezes transportam os seus próprios sentimentos para um objeto inanimado, ou então as propriedades de uma coisa para outra, como se se pudesse trocar a "alma" do individual pela "alma" do coletivo e vice-versa.
Acho que na música analisada não é a pessoa angustiada que busca uma ideologia, nem quero crer que ao compositor isso faltasse; quero crer que ele estivesse falando do Brasil, mesmo. Abandonado, desgovernado, dominado, etc.
Na música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque, tente pensar na Geni como a sociedade brasileira sob o jugo de um Ernesto Geisel.
Não era uma prostituta comum, pois ir amiúde, com os velhinhos sem saúde e com as viúvas sem porvir não é possível, em termos sexuais, senão como metáfora: mais especificamente, como hipálage.
p.s: se o Marcelo for seu professor, deve estar orgulhoso do discípulo.
Grande abraço!
Mr Fart está certíssimo, Julio.
Meus bons alunos - grupo no qual você se encaixa - me fazem sempre ter esperança de que a burrice não vai dominar o mundo inteiro...
Quanto ao que dizes, avaliando a questão para além do senso comum, que você cita muito bem, temos a ideologia como matriz semântica do movimento que dentro da filosofia ganhou o nome de "idealistas". Corrente a qual me filio, os idealistas são aqueles que entendem que a relação do ser humano com o real se dá, prioritariamente, pelas idéias. Platão é o primeiro nome (ele e Sócrates, na verdade), que representou essa crença com a expressão "mundo das idéias". Santo Agostinho bebeu dessa fonte, deixando para Descartes o retorno da questão, que formaria o maior debate filosófico dos séculos XVII, XVIII e XIX, qual seja, aquele entre os Idealistas e os Empiristas. Os primeiros (Descartes, Kant, Hegel, Schlegel...) defendendo a primazia da idéia sobre a matéria, e os segundos (Locke, Montesquieu, Hobbes, Rousseau...) defendendo a primazia da experiência sobre a idéia..
No século XX, essa questão se estendeu para outros ramos do pensamento, e a Globalização, que surgiu alicerçada na idéia (!!) de que a guerra ideológica havia chegado ao fim com a queda da URSS, criou uma ilusão de que não há mais nada a ser feito em termos de ideologia. Talvez isso também compareça na música do Cazuza, esse sentimento de vazio ideológico que a globalização (pra inglês ver) deixou nas mentes pensantes.. Mas concordo contigo, como já coloquei, que a expressão é equivocada em certo sentido. isso por que, se somos atados às idéias, não dá pra 'não ter' ideologia. É como diz o Millôr: "creio na crença do descrer". Descrer é crer na descrença.
Abraços aos dois.
JFC Silva disse…
Gostaria de dizer, primeiramente, que estou muito lisonjeado com os elogios!!!

Mr. Fart:.
Vou começar a pesquisar sobre esse "estilo literário" (se é que posso chamá-lo assim).
Ah! O senhor também poderia fazer um blog!! hahahaha
Espero que volte sempre aqui e deixe um comentário...

Marcelo:
Eu tenho o costume de dizer que não sou um cara inteligente, coisa e tal....
Apenas digo que os outros é que são burros demais...
Não vê na minha sala???
(Não preciso nem falar nada...)
É o que o Mr. Fart disse: eu sou bastante maduro para minha idade..
Tenho o costume de ler, pesquisar sobre assuntos interessantes e diferentes, e, principalmente, escrever (coisa que poucos da minha idade fazem).
Talvez seja isso que me deixe um pouco menos burro que os demais...
hahahahahahahahahahah
E outra (não é para ganhar 1,0 ponto, nem nada!!! Vou ser muito sincero): pode me considerar um fã seu, pois sou...
hahahahahah

Um abração aos dois....

Julio Silva.

FUI!!!!!!
Artsy-Fartsy disse…
Julião, vamos lá, por partes: 1) eu não sou "o senhor", pode me chamar de você, ou tu, como preferir; 2) eu não sou gay (hahahahaha, mas apenas pertenço ao "público masculino meio afeminado" que você detectou lá na postagem sobre o exército, do Marcelo), pelo que dispensaria o tratamento "a senhora", se você optasse por ele; 3) quanto à hipálage, que infelizmente a wikipedia confunde com outra figura sintático-semântica (a enálage), eu a qualificaria como figura de linguagem e/ou de literatura. Sugeri a música de Chico Buarque, porque ela é toda cheia de uma riquíssima simbologia: "homem tão nobre, tão cheirando a brilho e a cobre", tudo faz crer seja um General (pelas medalhas e brônzeos galardões); "amar com os bichos" deve reportar-se (a) a Erico Veríssimo e (b) a George Orwell - Animal Farm. Simbolicamente, amar com os bichos seria ser governado por alguém do próprio estrato social (aqui, com "s", mesmo, como em estamento), em vez de pelos militares. Chico é cheio de figuras interessantes, que revelam, nas entrelinhas, desde o regime a que ele e sua família estiveram submetidos, no Brasil (mesmo deportados), até o próprio ato sexual. Se você prestar atenção à melodia da música "Geni e o Zepelim", enquanto ela (Geni) "se deita" com o General, a música se acelera (excitação e aproximação do momento orgástico); quando eles terminam, a música desacelera e, uma vez "usada", a Geni, que antes havia sido endeusada, mitificada, tida como salvadora, passa a ser apupada e até bosta querem jogar nela.
Marcelo,
1) se o Julio apenas "se encaixa" no grupo de seus bons alunos, imagino que v. esteja dando (no bom sentido, claro) aulas para uma classe de superdotados;
2) quanto a classificar os filósofos em idealistas, empiristas, etc, veja só: acho que classificar é botá-los numa moldura. Santo Agostinho, por exemplo, tendo em conta os dogmas da igreja, pôde ir até um determinado limite - e não se permitiu mais. Basta pensar nos capítulos VII e XI das Confissões. Já no De Magistro, ele faz muito lembrar Lao-Tsé, em Tao Te King; todavia, em De Civitate Dei Contra Paganos (faço questão deste "contra os pagãos"), ele descamba para o cunho militarista do romanismo imanente à doutrina católica-apostólica, e diz que isso é (ou melhor, era) já previsto no Antigo Testamento. Ele se nutre de Plotino, mas parece que acede à anemia quando pára ante os dogmas. Gênio? Naturalmente! Veja só: Dilthey e Bergson não revogaram o "idealismo" de Santo Agostinho, mas desenvolveram-no. Kant não revogou Hume, mas lançou luzes sobre um trabalho sólido; enfim, aceito as classificações, o standard, para efeitos didáticos; contudo, se Locke, Montesquieu, Hobbes, Rousseau estão mesmo bem próximos, o mesmo eu não diria de Agostinho & Descartes, ou então ele, com todo o respeito que a ele devo (para não ir para o inferno) e Schlegel (ou talvez mais próximo do irmão poeta, romântico, que do filósofo, idealista).
Veja bem: admito que possa ser uma opinião sem muito fundamento científico, pois nunca tive um professor quando estudei o pouco que estudei de Filosofia e de Teologia. Sou um advogado e, acima de tudo, curioso. (Agostinho e Tomás apareceram em minha vida quando fui estudar Latim, e eu não consegui, apesar de apreciar a obra do bispo de hipona, deixar de imaginá-lo, muitas vezes, como o velho panegirista, antes "pagão", depois de deus).
Abraços (de macho, Julio, fique tranqüilo) a ambos.
Julio: acho que você, eu e mr fart somos o que eu chamaria de ignorantes assumidos. O que nos coloca um degrau acima dos burros, por prezarmos e cultivarmos a reflexão e o debate como alimento.
A verdadeira inteligência é transitar no verso das definições. Afinal, o real só nos aparece por máscaras e plásticas.
Fico sempre feliz quando alunos inteligentes 'compram' o meu discurso, porque ele tá rodando por fora da mercadolândia na qual se transforma o mundo, cada vez mais..
Abração pra você.

Mr Fart:
Dou (no bom sentido, por favor..) aula pra várias turmas, do 6o ano ao pré-vestibular. No colégio do Julio, existem alguns bons valores (poucos, é verdade).. A diferença do Julio pra eles é que ele não se deixa intimidar pela burrice alheia, e se manifesta quando tem vontade. A inteligência vai ficando cada vez mais tímida, diante de tanta burrice, penso eu... O que atrapalha alguns.
Quanto ao que falou sobre as classificações, concordo plenamente contigo. A divisão foi, como você bem percebeu, para fins didáticos. Inclusive, no caso do Santo Agostinho, usei critérios até mais pessoais, visto que devemos ao mesmo a sobrevida do pensamento platônico na Idade Média.
A divisão idealistas-empiristas é reducionista de fato, apesar da ressalva de que os sistemas de pensamento daquela época (peguemos o Hegel, por exemplo) tinham um viés 'universalizante', o que lhes confere uma unidade que a classificação, até certo ponto, dá conta. Mas não é o ponto final de nenhum deles, sem dúvida nenhuma.
Aproximei Agostinho de Descartes pela via platônica, como já coloquei.
Abração e obrigado pelo deleite do debate de alto nível.
Artsy-Fartsy disse…
Voltei apenas para enfatizar um aspecto da minha ignorância: a pior delas, que é a ignorância acerca de mim mesmo. Não haver lido um livro ou outro, ou havê-lo treslido e, portanto, compreendido ou interpretado mal, isso é inerente à nossa condição. Às vezes entendemos tanto quanto nos faculte a razão (ou a emoção, ou a vontade) entender; contudo, se eu pudesse "introjetar" (como FHC introjetou deus, de uma hora para outra) o conhecimento e tirá-lo do plano meramente cognoscitivo, para fazê-lo transcender ao plano do "vivenciá-lo", ah... quimera.
Assim, a minha mais declarada ignorância está entre meus olhos e o véu que os impede de olhar para dentro de mim, quando me ponho em contato com o mundo. Aquela terzietà que me parece haver em Sócrates, por exemplo. Disto estou muito longe. Ler? Acho que todos nós gostamos de fazê-lo, e que nos permita a vida ler até o último singulto expirado.
Ainda uma observação, e agora em me reportando aos comentários à postagem que fiz sobre o Julio lá no À Sombra: o que as mulheres talvez não consigam entender nos homens é que o homem cuja maturidade ultrapasse muito a idade mental de 16 anos ou é gay, ou é gênio. De acordo com este critério, Marcelão?
Abraços a mestre e discípulo.
Julio Ferreira disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Julio Ferreira disse…
Achei muito interessante essa associação de "mestre e discípulo", ainda mais quando o mestre é um cara tão intelectual e inteligente.
Quanto a questão colocada, se a minha idade mental ultrapassar a de um jovem de 16 anos, pode ter certeza que eu só serei um gênio, mesmo!!!
Um abração.

Fui!!!
Artsy-Fartsy disse…
Julio, quanto a mim, cheguei aos 42 anos com idade mental de 16 (e garanto que não passo disto). Assim, não corro o risco de ser tachado nem de um, nem de outro. Vivo tranqüilo, à 3ª margem do rio, parodiando agora João Guimarães Rosa.
Abraço.
Crianças. ( e me refiro aos tres ) Como é bom estar sentada recolhendo as migalhas que consigo apreender de vossos conhecimentos. Imensamente agradecida! "au!au!"
Espero que consintam não me enxotar e quando eu ousar uma pergunta, que, por favor tenham paciência para explica-me...
JFC Silva disse…
Muito pelo contrário!!!
Espero que volte sempre!!!
E pode fazer as perguntas que quiser...

Ah! Visitei o teu blog e achei muito legal.

Um abração...

FUI!
Anônimo disse…
Que comentários enormes! eu hein!
bom mas em relação ao texto sobre a musica "ideolgia" não é só verificar no dicionario o que significa e interpretar como acha que deve ser, ideologia tem varios sentidos e acredito que cazuza quis dizer com isso uma coisa que poucos até hoje conseguem entender, não é atoa que cazuza foi um cara inteligente! a musica pode confundir a cabeça das pessoas, pode ter uma letra dificil mas burra eu garanto que não é!

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