Quarta-feira, às nove de alguns anos atrás...


Numa quarta-feira estava eu saindo do trabalho, às nove e meia da noite, após um dia super cansativo, quando recebo um SMS (super inesperado) de uma amiga, me chamando para ir encontrar ela e uns amigos dela num bar. Estava mesmo precisando relaxar, aceitei o convite e fui me encontrar com ela. Cabe aqui uma breve descrição da moça: é, além de alguém muito inteligente e agradável, absolutamente linda. Como ninguém é perfeito, fuma feito uma louca. E cigarro é uma das poucas coisas capazes de me fazer desistir de uma mulher bonita e interessante. Mas o objetivo não era azarar ninguém, era relaxar de um dia estressante e me divertir com gente interessante. E o grupo era realmente interessante, a conversa fluiu nas mais diversas direções, incluindo uma parte em que fui convidado para uma festa na sexta feira, quando ela ia me apresentar a prima dela, dona da tal festa, e que segundo ela tinha tudo a ver comigo.

Mas, à medida que a noite foi avançando, o álcool foi fazendo seu efeito. No meu caso, foi tornando o cigarro dela menos fedorento, e no caso dela foi me tornando mais bonito. São dois efeitos bem conhecidos do álcool, e o resultado não poderia ser outro. A noite terminou em beijos. Esta seria a parte agradável que precede qualquer roubada, segundo minha teoria. Mas eu não havia ainda formulado a teoria nesta época. Contra a lógica, eu havia gostado da parada de quarta-feira, fiquei com vontade de encontrar de novo para ver o que rolava. Nos falamos na sexta, e fui na tal da festa de aniversário da prima dela. Aquela que ela, antes de me dar uns beijos, ia me apresentar. Olhando agora, mais cheiro de roubada, impossível.

O lugar da festa era horrível, um bar mega lotado, onde era impossível conseguir andar ou conseguir uma bebida. A tal festa incluía, além da prima e dela, toda a família, desde o priminho de 15 anos até as tias de 60. Obviamente que toda a família me olhava, era o único rosto não conhecido por ali. O constrangimento da moça era visível. Decidi bancar só o amigo sem interesse e pronto. Como eu já havia aberto mão das outras baladas do dia, resolvi pelo menos beber para entorpecer os sentidos, mas nem isso era possível, o garçom não passava. Notam a semelhança com a espera da churrascaria? O melhor seria não ter nem ido na parada. Uma vez já lá, o ideal seria ter notado a furada e saído à francesa, como, por exemplo, desistir da churrascaria simplesmente ao ver o tamanho da fila de espera. Mas eu não conhecia a teoria, e acabei passando da sala de espera para o restaurante, onde realmente a roubada atinge sua plenitude.

Neste exemplo, a coisa foi assim: Ela me falou que iam cantar os parabéns e que a ala jovem ia para uma balada chamada “The Clash”. Já era tipo duas da manhã, mas era uma sexta feira, e meu cérebro “Rocker” assumiu, sem perguntar, que uma balada com o nome da melhor banda de rock de todos os tempos ia tocar boa música, isto é, rock. Seria uma boa chance de tentar dar um fim interessante para aquela noite horrível. Quem sabe até terminar a noite com uns beijinhos. E lá fomos nós para a tal balada, que eu nunca tinha ouvido falar. Era num bairro mega decadente, basicamente formado por fábricas e galpões abandonados. Levamos uma boa meia hora para conseguir achar a tal balada em meio àquela Sinistrolândia. A balada em questão era num destes galpões. Chegando lá, começo a ouvir, ainda na rua, aquele “Tuntz Tuntz Tuntz” característico de baladas de música eletrônica. O cheiro de roubada invade o ar. Na entrada, a mocinha da recepção me pergunta se eu quero pagar R$ 45 de entrada ou R$ 135 de consumação! Eram 3 da manhã, a música era horrível.... A vontade foi fazer meia volta ali mesmo. Mas a atração humana pela Roubada falou mais alto e decidi entrar. Com dor no coração, falei que pagava os R$ 45 de entrada... para entrar num galpão abandonado e sem sequer uma janelinha por onde pudesse entrar ar puro. Devia ter um lei que proibisse alguém de usar o nome de uma boa banda de Rock para batizar um terreiro de música Techno! Talvez eu ligue para o Conar, isso é propaganda enganosa no mínimo.

Lá dentro, devo confessar que nem em pesadelo eu imaginava que pudesse haver uma balada tão ruim. O lugar era só as paredes, nem um lugarzinho para sentar sequer. A música, além de ruim, estava num volume tão alto que eu não conseguia nem ouvir as orientações que o meu próprio cérebro tentava me passar. Fui ao banheiro, onde o som era um pouco menos alto, e, enquanto esvaziava a bexiga, consegui ouvir a orientação, que me dizia para voltar lá dentro e tentar pelo menos dar uns beijos na moça. Voltei para junto da moça e fiquei esperando acabar a música, para no breve intervalo entre uma música e outra conseguir iniciar uma conversa que pudesse nos levar a retomar o assunto de quarta-feira. Vinte minutos depois, nada da música acabar, e eu ali fingindo que estava dançando aquele Tuntz Tuntz dos infernos. Caracas, o que eu estou fazendo aqui? Comecei a olhar em volta e entendi porque se vende tanto ecstasy e outras drogas em festas de música eletrônica. Só estando mais louco que o Bozo para conseguir gostar disso. Ou então tendo menos neurônios que uma dançarina de Axé. Como nenhum dos dois casos era o meu, estava odiando aquilo. De repente, o DJ parou de tocar, e foi muito aplaudido!? Tentei iniciar a conversa mandando um “Nossa, o cara tocou uma só música de meia hora, parece até Rock Progressivo”. Ela me olhou muito feio e falou que o cara era um Gênio e que tinha tocado umas seis músicas. Fala sério, gênio aonde? As seis assim chamadas “músicas” eram todas iguais, sem ter sequer letra, e formadas basicamente por uma batida mega acelerada coberta por meia dúzia de barulhos eletrônicos. Harmonia e melodia simplesmente não existem. Até eu sei que música é ritmo, harmonia e melodia! Sem sacanagem, se eu quiser monto uma “música” daquelas no computador em 15 minutos! O outro DJ que entrou se agitava sem parar, e ficava mexendo com os braços numa mesa de som. Notei um monte de garrafas de RedBull na mesa. Fiquei na dúvida se ele estava tão agitado assim por ter bebido todo aquele energético ou se alguma garrafa daquelas tinha tombado sobre a parte elétrica da mesa e ele estava na verdade sendo eletrocutado ali, ao vivo, sem ninguém notar. Obviamente que por mais que ele mexesse na mesa, o som não mudava uma vírgula sequer, fiquei com a sensação que era puro playback.

Meu lado empresário me fez pensar em abrir uma balada daquelas. Arrumo por preço de banana um galpão abandonado, cobro R$ 50 de cada bobo que quiser entrar, aproveito que este povo é tudo doidão e vendo álcool de posto nas garrafas de vodka, a R$ 20 a dose, e, para completar, largo um Ipod lá tocando a música a noite inteira. Fiquei na dúvida só se eu faria como os caras e contrataria um ator para ficar ali fingindo que está tocando ou se colocava só um daqueles bonecos de posto de gasolina, que têm um ventilador embaixo e ficam agitando os braços. Ri sozinho da minha idéia, e, após este breve momento de descontração, realizei a roubada em que havia me metido e resolvi me mandar. A moça era linda, mas eu não ia conseguir ser simpático nem tentando, minha paciência já tinha tomado no cu. O melhor a fazer era dar tchau e ficar na esperança de um dia conseguir marcar um cinema ou um barzinho. Esta eu acho que é a única diferença da Roubada de dia das mães para todas as outras. O roteiro é sempre parecido, a bonança vem antes da tempestade, mas mãe é mãe, então nossa capacidade de agüentar a roubada é maior.

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